domingo, 9 de agosto de 2009

Malária

A região do Rio Padauiri, limite entre os municípios de Barcelos e Santa Isabel do Rio Negro, no Médio Rio Negro (AM) (veja o mapa abaixo) é uma área de intensa atividade extrativista da piaçaba, que gera renda à maioria da população que ali reside. Entretanto, os piaçabais são áreas endêmicas, ou seja, de ocorrência constante de malária e de doença de Chagas, que se explica por ser o ambiente altamente favorável à reprodução dos vetores dessas doenças. A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), instituto vinculado ao Ministério da Saúde e dedicado ao desenvolvimento de estudos e pesquisas de saúde pública entre outras atividades, passou a estudar a ocorrência da malária em Barcelos. No final da década de 1990, identificou na região do Padauiri um alto índice da doença com muitos portadores assintomáticos, que não apresentavam sintomas da doença, caracterizada por febre intermitente.

A partir de então, os estudos se voltaram ao conhecimento das características da malária na região urbana de Barcelos e nas áreas do Rio Padauiri e do Parque Nacional do Jaú, em pesquisa dirigida pela Dra. Simone Ladeia-Andrade, de forma a obter subsídios para embasar estratégias de prevenção no Médio Rio Negro.

Incidência maior entre mulheres e criança
Daí resultou um estudo publicado em 2007 pelos cientistas e pesquisadores Martha Cecilia Suárez-Mutis e José Rodrigues Coura no qual analisam os dados levantados pela Fundação Nacional de Saúde (Funasa) no município de Barcelos e as fichas de notificação do Ministério da Saúde sobre a malária na região, entre 1992 a 2004.

Os pesquisadores pretendiam identificar o padrão da doença na região do Padauiri, e esperavam encontrar o mesmo quadro do resto do Brasil, no qual os adultos fossem os mais comumente atingidos e as crianças menores de cinco anos poupadas.

No entanto, os dados do período considerado mostraram mudança nesse padrão. Em vez de atingir mais os homens adultos, ali, no Médio Rio Negro, a malária parece afetar mais as crianças e as mulheres assemelhando-se, então, ao padrão de uma malária em que as pessoas estão constantemente expostas à doença. Uma das possíveis explicações seria o aumento de pessoas que não apresentam sintomas, permitindo a sustentação da transmissão da doença.

Para Martha Cecilia Suárez-Mutis, do Laboratório de Doenças Parasitárias da Fiocruz, no Rio de Janeiro, que desde 2002 pesquisa a malária na região do Padauri, apesar de ser um complicador para o controle da malária, o aumento dos portadores assintomáticos indica que a população pode estar desenvolvendo uma certa imunidade ao plasmódio, parasita causador da malária, transmitido pela picada do mosquito anopheles.

Mosquiteiros com inseticida e ações educativas
Neste sentido, a Fiocruz tem organizado uma série de pesquisas para montar uma estratégia integrada de controle da malária na região, considerando a necessidade de centrar as ações localmente, nas comunidades e com participação direta da população indígena, pois somente assim será possível o controle em uma área onde a endemia é alta, com portadores que não apresentam sintomas e onde identificou-se ainda que o mosquito transmissor do parasita da doença na região pica a noite inteira.

Uma das ações foi avaliar o uso e eficácia dos mosquiteiros impregnados de um inseticida inodoro e inofensivo ao ser humano para controlar a doença. Com apoio da Fundação de Vigilância em Saúde (FVS) do Amazonas e a gerência de malária do município de Barcelos, a Fiocruz distribuiu e treinou a população do Rio Padauiri para usar esses mosquiteiros.

Além disso, a Fiocruz está implementando um sistema de vigilância epidemiológica comunitária para o estudo da malária e de sintomas febris que as pessoas podem apresentar. Esse sistema consiste na capacitação dos agentes de saúde comunitários voltada aos sintomas e formas de transmissão da doença. Está sendo implantado ainda um sistema de vigilância entomológica (específica sobre insetos) entre a Fiocruz e a rede pública de saúde de Barcelos e região do Médio Rio Negro, de forma que haja uma troca de informações entre elas. Ações educativas dirigidas às crianças e adultos sobre conhecimentos básicos em malária também fazem parte da estratégia, enfatizando os determinantes de risco e as formas de prevenção.

O diálogo com a área da educação começou ainda no ano passado quando a Fiocruz realizou o I Curso de educação em saúde para o controle integrado da Doença de Chagas e malária no município de Barcelos – Amazonas, com os professores da rede municipal, especialmente os professores das comunidades de Barcelos. A idéia foi aprimorar o conhecimento sobre a malária, formas de transmissão, sintomas e prevenção. Juntamente com a distribuição dos mosquiteiros, a Fiocruz deu continuidade ao trabalho por meio de oficinas e palestras nas comunidades com todos os moradores.

A importância do fortalecimento das ações de controle nas próprias comunidades é fundamental uma vez que a rotatividade dos profissionais da área de saúde (Distrito Sanitário Especial Indígena – DSEI e Secretaria Municipal de Saúde – SEMSA) impede uma formação continuada e um acompanhamento efetivo para controle da doença.

Fonte: ISA

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