Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
*
Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.
*
Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.
*
Uma parte de mim
Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.
*
Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.
*
Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.
*
Traduzir-se uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte -
será arte?
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Poeta:Ferreira Gullar
Um comentário:
Quanta sapiência! Levamos a vida toda tentando nos traduzir, teimando em não ver os reflexos de nossa outra face no espelho de nossos labirintos. Poema digno de seu blog, Gabriela!
Beijo.
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