quarta-feira, 4 de junho de 2008

CONVERSA AFIADA



Eduardo Guimarães: novelas da Globo, a nova arma da direita

A novela Duas Caras, que os que se opuseram à minha proposta de encaminhar denúncia ao Ministério Público Federal contra o folhetim político-ideológico do novelista Aguinaldo Silva por uso de uma concessão pública com finalidade político-partidária dizem que "ninguém vê", bate recordes de audiência.


Por Eduardo Guimarães, no Cidadania.com


De acordo com a Folha Online, "O antepenúltimo capítulo de Duas Caras (Globo), exibido na noite de quinta-feira (29/05), bateu o recorde de audiência da novela de Aguinaldo Silva. A trama marcou 51 pontos no Ibope, com 70% dos televisores ligados sintonizados na Globo".A novela fez intensa propaganda contra o governo Lula, trazendo para seus capítulos denúncias do PSDB e do PFL contra esse governo. Além disso, teorias da oposição contrárias a políticas do governo federal tais como cotas para negros nas universidades e a teoria do diretor de jornalismo da Globo, Ali Kamel, de que não há racismo no Brasil, ganharam força na novela do seu começo até o fim.A novela Duas Caras foi intensamente criticada em montes de artigos de sociólogos, jornalistas e historiadores. Apesar disso, uma defesa esdrúxula da "liberdade de expressão artística" contaminou até aqueles que se deram conta das intenções ilegais da dramaturgia global.Por se tratar de uma obra ficcional (pero no mucho), a pregação contra a tomada de alguma atitude por medo de acusações de "tentativa de censura" impôs constrangimento à única reação proposta contra esse uso ilegal de uma concessão pública para propagandear ataques políticos e teorias racistas que negam o racismo, a proposta que fiz aqui durante a última semana de encaminhar representação ao MPF.O resultado da inação dos que vêem o malfeito sendo cometido, mas temem o discurso espertalhão sobre "censura" que a mídia saca do bolso do colete toda vez que é questionada, já começa a produzir efeitos.Mau inícioA nova novela das oito da Globo, A Favorita, de João Emanuel Carneiro, já começa mal. Sua propaganda anuncia um personagem, composto pelo ator negro Milton Gonçalves, que já mostra que as preferências políticas e ideológicas da Globo continuarão sendo impingidas ao público.Gonçalves fará um político corrupto que alardeia sua origem pobre (quem será que políticos com origem pobre lembram?) para ganhar apoio do eleitorado. Sua filha, incorporada pela atriz Taís Araújo, será uma ninfomaníaca maldosa, que assume que veio ao mundo para fazer os homens sofrerem.Escrevo isto pelo seguinte: presido uma ONG, o Movimento dos Sem Mídia. Semana passada, propus que a ONG fizesse uma representação ao Ministério Público Federal, para que investigue uso de uma concessão pública com fins político-partidários e ideológicos.Contudo, a própria assessoria jurídica da ONG discordou de mim, bem como vários leitores de meu blog e de outras páginas na internet que repercutiram a possibilidade de se fazer a representação.Acabei recuando de minha proposta porque a oposição a ela veio com força e decisão, de maneira que me deixei influenciar.AbusoA finalidade deste texto é reiterar que o uso político-ideológico da teledramaturgia pela Globo começa a adquirir uma dimensão escandalosa. A aposta da emissora nessa nova arma de luta político-ideológica não está sendo feita à toa. Pesquisas devem mostrar a efetividade do estratagema.Peço, pois, àqueles que se opuseram à minha proposta de representar contra a novela Duas Caras no MPF que acompanhem a teledramaturgia global, pois tenho certeza de que alguém terá que tomar uma atitude. É um abuso de uma concessão pública que, mesmo que não tivesse sucesso em sua pretensão doutrinadora de mentalidades desavisadas, nem por isso deixaria de ser inaceitável.A apatia da sociedade foi o que transformou a grande mídia no poder avassalador e corrupto que é hoje. Venho lutando contra essa apatia, mas quando ela assola até aqueles que têm clareza do papel nefasto dos barões da mídia neste país, sinto o desânimo se apossando de mim.


Texto retirado do site Conversa Afiada de Paulo Henrique Amorim

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