domingo, 11 de outubro de 2009

A triste realidade da saúde pública em Petrópolis

Cada vez menos vagas hospitalares pelo SUS
Seguindo uma tendência que vem se consolidando em todo o Brasil, apesar do aumento significativo da população, o número de leitos do Sistema Único de Saúde em Petrópolis vem diminuindo ao longo dos anos. Na avaliação de especialistas, o principal fator para essa redução são os valores de tabela do SUS, que a cada ano ficam mais defasados, provocando prejuízos para entidades privadas e até mesmo filantrópicas, que com isso acabam reduzindo gradativamente o número de leitos disponibilizados aos pacientes. Informações do cadastro do DATASUS, órgão do Ministério da Saúde, atualizado mensalmente, dão conta de que Petrópolis dispõe atualmente de 280 leitos clínico-cirúrgicos e 1.202 leitos de clínica geral, números que, segundo o ex-secretário de Saúde de Petrópolis e vereador Márcio Muniz, são bem menores do que a quantidade de leitos disponibilizados entre o fim da década de 80 e início dos anos 90. “Em Petrópolis perdemos muitos leitos do SUS por causa de unidades que foram compradas pela iniciativa privada ou clínicas que foram fechadas. “Tínhamos o Hospital São Lucas, por exemplo, que foi comprado pela Unimed e hoje não oferece mais leitos para o SUS. Algumas clínicas foram fechadas, como o Procor, em Nogueira, que tinha 35 leitos; a Clínica São Francisco, na Casimiro de Abreu, que também tinha entre 25 e 30 leitos, e recentemente a Clínica Pedras Brancas, que tinha aproximadamente 100 leitos na área de psiquiatria e que também foi fechada”, contabiliza o vereador. O ex-secretário de Saúde lembra também que em alguns casos, hospitais privados deixaram de atender pacientes do sistema público de saúde ou reduziram o número de leitos para a rede do SUS. “No fim da década de 80 tínhamos, por exemplo, a Beneficência Portuguesa, que atendia pelo antigo Inamps e que fechou os leitos; o Hospital Santa Teresa, que, em 1991, tinha 95 leitos credenciados ao SUS, hoje reduziu o número quase pela metade; a Casa Providência também disponibilizava naquela época cerca de 80 leitos e hoje trabalha com cerca de 40. O SUS antigamente tinha cerca de 300 leitos e agora tem cerca de 150. Fizemos um levantamento e chegamos à conclusão de que Petrópolis teve uma redução de cerca de metade dos leitos nos últimos anos”, avalia Márcio Muniz. Os efeitos dessa redução sobre o funcionamento do SUS na cidade ficam ainda mais graves diante do crescimento populacional. Estatística do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia Estatística) mostra que entre os anos de 2001 e 2007 houve um aumento de aproximadamente 20.108 habitantes na cidade. O ex-secretário diz que apesar do Hospital Alcides Carneiro ter aumentado o número de leitos para tentar absorver parte da demanda, o número ainda é pequeno, diante da necessidade da população. “A partir do momento em que a implantação do SUS foi avançando, os leitos foram fechando aqui e ali. O HAC foi o único que abriu novos leitos, mas mesmo assim não o suficiente para compensar os que foram desativados. Além disso a cidade tinha convênio com alguns hospitais para serviços importantes. O Santa Teresa por exemplo, atendia a todas as especialidades e hoje não tem mais pediatria, maternidade e concentra praticamente só casos de traumas e cardiovasculares. A redução de leitos é um fenômeno que acontece em todo Brasil. No Estado do Rio o número também encolheu, e Petrópolis certamente é uma das cidades no estado em que essa redução foi maior”, acredita.
Crescimento do HAC é insuficiente
O fechamento de leitos do SUS na rede privada e o fechamento de clínicas refletiram diretamente no Hospital de Ensino Alcides Carneiro (HAC). De acordo com informações da assessoria de Imprensa do Hospital, a redução do número de leitos do SUS nos hospitais privados da cidade provocou uma mudança profunda no HAC, que acabou absorvendo boa parte dessa demanda. O hospital, que, em 91, quando foi municipalizado, tinha 60 leitos (clínica médica), hoje tem 158 (entre clínica médica, cirurgia, pediatria, maternidade, ginecologia, UTI adulto e UTI neonatal). Ainda segundo a assessoria, há previsão para abertura, já no início de 2010, de 35 novos leitos, sendo cinco na UTI adulto e 30 na cirurgia. O hospital também ampliou o centro cirúrgico, que tinha quatro salas e agora tem sete. Para o diretor geral do HAC, Eduardo Primo, a redução do número de leitos do SUS em outros hospitais da cidade só aumenta a demanda. “O fechamento dos leitos nos hospitais privados provocou - e ainda provoca - um aumento significativo na procura pelo HAC. Sempre atendemos e vamos continuar atendendo essa demanda, mas não há como negar que esse fenômeno nos traz desconforto, já que o hospital acaba tendo que abrir leitos extras para atender pacientes”, explica. Sobre a redução de leitos do SUS na cidade, a assessoria de Comunicação da Prefeitura emitiu a seguinte nota: “A informação da Secretaria de Saúde é que a quantidade de leitos do SUS faz parte do cadastro do DATASUS, atualizado mensalmente. O cadastro referente a repasse de verbas, por sua vez, é feito anualmente e, a secretaria, hoje, não dispõe de dados sobre números de leitos de anos anteriores, até porque essa quantidade - principalmente em hospitais conveniados - é variável no decorrer do ano. A quantidade de leitos disponíveis na atualidade em Petrópolis e todas as unidades conveniadas pode ser consultada no site http://cnes.datasus.gov.br/. Com relação à redução, ela realmente ocorreu, mas também é importante avaliar que a realidade da saúde mudou muito no decorrer de 20 anos. Um exemplo é a criação dos Postos de Saúde da Família, que fazem um importante trabalho de prevenção e atendimentos básicos, evitando muitos casos de internação e agravamento de casos. Um outro fator relevante é o tempo de permanência dos pacientes nos leitos, que vem reduzindo consideravelmente, devido à evolução da medicina, dos exames, tratamentos e das recuperações cirúrgicas. A Secretaria de Saúde informou que novos leitos serão abertos na cidade - obras já estão sendo realizadas no HAC -, em determinadas especialidades, para o melhor atendimento à população”, consta da nota da assessoria.
Problema mais grave é valor da remuneração
Entre as entidades privadas que ainda mantêm leitos do SUS está o Hospital Santa Teresa, entidade filantrópica, que tem como mantenedora a Associação Congregação de Santa Catarina. De acordo com a Assessoria de Imprensa do Hospital, a unidade dispõe hoje de 136 leitos, dos quais 52 são para pacientes do SUS. A entidade filantrópica confirma que o número de vagas para o SUS vem sendo reduzido. No fim do ano passado, por exemplo, o hospital disponibilizava 75 leitos para pacientes do SUS; em janeiro e fevereiro deste ano, o número caiu para 66 e hoje o Santa Teresa tem 23 leitos para o SUS a menos do que em dezembro de 2008. A diretora da Casa Providência, irmã Anja Carvalho, que está há um ano na direção da instituição, diz que nesse período o número de leitos não foi reduzido, mas o hospital, também filantrópico, não conseguiria se manter sem o auxílio financeiro da Associação São Vicente de Paula. “A tabela que temos hoje do SUS é insustentável, é de falir qualquer sistema. É muito complicado administrar o caos. Hoje, o hospital não consegue se manter sozinho. A folha de pagamento dos 286 funcionários é custeada integralmente pela nossa matriz”, afirma, lembrando que até mesmo melhorias para o hospital têm de ser custeadas pela mantenedora. Segundo a diretora, a Casa Providência dispõe atualmente de 48 leitos para pacientes do SUS. “Temos hoje 34 leitos para maternidade, cinco leitos de unidade intensiva para recém-natos; oito leitos do SUS para pacientes de clínica médica e cirúrgica e um leito de UTI para adulto. Algumas vezes quando temos leitos vagos e existe essa necessidade, disponibilizamos mais leitos”, diz Irmã Anja.
Fonte:Tribuna de Petrópolis

Um comentário:

Julimar Murat disse...

Gabriela

Venha participar da Maior Meditação Coletiva pela Paz (vide meu blog)

Conto com vc.
beijos

Julimar