O almejado emprego com bom salário e estabilidade é ideal, mas pode transformar alguns concursados em insatisfeitos e doentes
Mais de 85 mil pessoas estão, neste domingo, debruçadas sobre questões de direito administrativo, constitucional, civil, em diversas unidades de ensino do estado. Contam com o que aprenderam e com um pouco de sorte para acertarem um número suficiente de alternativas que dará acesso ao tão sonhado emprego público. Melhor: aos desejados salário e estabilidade do emprego público. Mas quantos ali estão, verdadeiramente, vocacionados para lidar com atividades burocráticas, atender e orientar pessoas, enfim, ser um serventuário de um órgão público? Quantos ali têm, de fato, noção de como será seu dia-a-dia se forem aprovados? Muitos irão se encontrar no novo trabalho. Terão conquistas profissionais, melhorarão de vida, farão novos amigos. Mas nem todos. As chances de se tornar um profissional insatisfeito e desmotivado são grandes para quem se arrisca numa função com a qual não possui afinidade. A filosofia do concurseiro de "atirar para todos os lados até acertar um alvo" pode custar caro para ele mesmo, para a instituição pública e para nós, usuários desses serviços.
A constatação vem de especialistas que observam a realidade sob o olhar crítico da ciência. A obsessão de estar num emprego público a qualquer preço está formando uma geração de trabalhadores doentes, estressados, infelizes na vida profissional e pessoal. "As pessoas que vão para o serviço público imaginando determinada situação, mas não têm vocação nem preparo específico para aquele trabalho, acabam sendo vítimas do transtorno de adaptação, um quadro de ansiedade e problemas psicossomáticos, que pode evoluir para uma depressão", analisa o psiquiatra e médico do trabalho João Carlos Dias, presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).
"Estar num trabalho do qual não se gosta, motivado apenas pelo salário, diminui a qualidade das relações profissionais e pessoais. A pessoa que não se completa naquilo que faz acaba contaminando sua vida pessoal e sendo infeliz", atesta o professor de Comportamento Organizacional do Programa de Pós-Doutorado em Administração da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), José Arimatés de Oliveira.
Quando Andréia ingressou no serviço público, há 20 anos, sentia-se privilegiada por estar num trabalho com jornada diária de seis horas e ganhando salário acima da média dos oferecidos no setor privado. Mas o sonho virou pesadelo. Com o peso da rotina, descobriu que seria mais feliz se não fizesse trabalhos tão burocráticos; que seus valores pessoais não condiziam com a maioria dos praticados na instituição; e até que poderia estar ganhando mais dinheiro, não fossem as perdas salariais acumuladas no tempo de prestação de serviço.
"Trabalhei em vários setores, mas não consegui me identificar. O que me decepcionou é que no funcionalismo público as coisas não acontecem, as pessoas não são reconhecidas e não têm chance de crescer", conta Andréia. Agora, aos 50 anos, o maior sonho de Andréia é ser dona do tempo: ou fazer com que ele volte ou com que ele passe rápido, despercebido. "Estudei tanto para entrar ali. Achava aquilo o máximo. Mas tudo isso acabou. Estou depressiva, insatisfeita. Vou para o trabalho por obrigação. Não tenho o menor estímulo. Tomo medicamentos para dormir e esquecer. A relação com minha família ficou horrível. As horas de trabalho duram uma vida inteira. Agora só me resta aguentar e esperar a aposentadoria".
Esse grau acentuado de depressão gerada especificamente pela insatisfação e pelo estresse no trabalho é denominado pelos especialistas como Síndrome de Burnout. O termo vem do inglês e quer dizer esgotamento total. Acomete, em sua maioria, profissionais que lidam com pessoas, máquinas e carga excessiva de trabalho. "É diferente do estresse, quando a pessoa não tem muita consciência do que está acontecendo com seu organismo e coloca a culpa no chefe ou no colega de trabalho. Na síndrome, os sintomas são mais fortes. Ela leva à prostração e o doente pede socorro", explica o professor José Arimatés.
Aprenda a lidar com o estresse
1. Reconheça os fatores que podem desencadear sofrimento no trabalho e adote estratégias para evitá-los ou controlá-los;
2. Conheça seus próprios limites para saber até onde e quando você pode ficar exposto a uma determinada situação;
3. Aprenda a dizer não. Aceitamos muito mais tarefas do que realmente temos tempo para resolvê-las;
4. Dê uma parada de vez em quando, mesmo que por pouco tempo;
5. Se a situação estiver ficando insuportável, estude a possibilidade de pedir uma licença;
6. Cuide de você mesmo. Concilie atividades profissionais e intelectuais com exercícios físicos regulares e lazer, o que colabora para a tranquilidade mental;
7. Equilibre vida pessoal e trabalho. Se você investir toda a sua energia vital num só aspecto, se algo der errado, tudo estará mal;
8. Atualize seus conhecimentos. Leia livros, participe de congressos e faça cursos. Essas atividades, embora aparentem mais carga de trabalho, ajudam a elevar a autoconfiança na execução das tarefas diárias;
9. Busque ajuda profissional se identificar que o cansaço físico e mental está excedendo suas forças; a irritação ou a indiferença afetando seus relacionamentos; e a sua crença e confiança em você mesmo se abalando.
Fonte: Professor José Arimatés de Oliveira
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A síndrome de Burnout
A síndrome de Burnout
Todo cuidado é pouco com a insatisfação e a falta de motivação no trabalho. Quem já apresentou sintomas de estresse precisa cuidar da saúde para não evoluir para a Síndrome de Burnout. A expressão é inglesa e significa aquilo que deixou de funcionar por exaustão física e mental, falta de energia ou falta de força.
Conheça a síndrome
Sintomas físicos
Fadiga constante e progressiva; dores musculares; distúrbios do sono; cefaléias e enxaquecas; perturbações gastrointestinais; imunodeficiência; transtornos cardiovasculares; distúrbios do sistema respiratório; disfunções sexuais; alterações menstruais nas mulheres.
Sintomas psíquicos
Falta de atenção e concentração; alteração da memória; lentificação do pensamento; sentimento de alienação e de solidão; impaciência; sentimento de impotência; baixa autoestima; desânimo e depressão; desconfiança que avança para uma paranóia.
Sintomas comportamentais
Negligência ou escrúpulos excessivos; irritabilidade; incremento da agressividade; incapacidade para relaxar; dificuldade na aceitação de mudanças; perda de iniciativa; aumento no consumo de álcool e outras substâncias entorpecentes; comportamento de alto risco; suicídio.
Sintomas defensivos
Tendência ao isolamento; sentimento de onipotência; perda do interesse pelo trabalho; absenteísmo; ímpeto de abandonar o trabalho; ironia e cinismo.
Fonte: Livro Qualidade de Vida e Saúde no Trabalho
no Serviço Público Estadual, José Arimatés de
Oliveira (Org.) - Natal: UFRN, 2009
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fonte:The Blogger
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