O Rio fracassou. A culpa é do Brizola
"Desde os anos 80 eu percebo um certo saudosismo em relação ao Rio dos anos 60. Meu primeiro contato com ele foi em conversas com o Paulo Francis, em Nova York. O Rio era, pelo que diziam, um paraíso da classe média: praia boa, mulheres bonitas, pouco trânsito e uma importância política e cultural que perdeu desde então.
Esse Rio "ideal" persiste no cérebro dos mais velhos e é retransmitido aos mais novos como se fosse possível voltar no tempo. É, em minha opinião, a principal cola ideológica por trás da agenda política reacionária que a "intelectualidade" carioca agora persegue. Como a Globo é a principal empregadora no Rio de Janeiro, pouca gente se dispõe a contestar essa agenda reacionária. Ficamos entregues, portanto, ao ativismo de Ali Kamel e aqueles que fazem tráfico de influência com o ideólogo da Globo: cineastas, escritores e jornalistas que, direta ou indiretamente, dependem da Globo para promover seus filmes, livros e projetos.
Políticos, mesmo os que se definem como progressistas, não ousam dar um pio contra os interesses da Globo. Todos querem botar a cara no Jornal Nacional e sonham com os holofotes da Globonews, que ninguém é de ferro. Isso contribui para a atrofia intelectual do Rio de Janeiro e para negar um dos princípios que fizeram da cidade o que ela foi nos anos 60: arejada, aberta às novidades e às influências que chegavam de fora.
A leitura de "O Globo", hoje, é reveladora de uma agenda política e cultural reacionária que reflete uma tentativa de voltar àquele Rio dos anos 60: criminalização dos movimentos sociais, dos pobres em geral e dos que os representam, em especial de Leonel Brizola e seus herdeiros políticos.
É como se fosse possível fechar os túneis, remover os pobres e criar um Projac frequentado apenas pelos brancos de olhos azuis, por mulatas de novela, uma "democracia racial" de fachada onde os negros saibam seu lugar e a classe média possa deixar o carro sobre a calçada com a porta aberta.O fato é que o Brasil mudou e, com ele, o Rio de Janeiro. A migração interna transferiu milhões de pessoas para as metrópoles brasileiras por conta do desequilíbrio econômico regional e com incentivo das novelas da Globo, que sempre venderam ao Brasil o "paraíso" carioca e a maravilha do consumo.
Não foi, portanto, o Brizola quem trouxe os pobres para o Rio de Janeiro. Foi um desequilíbrio econômico regional que vem de longe, aprofundado pelas políticas concentradoras de renda do regime militar. Essas políticas sempre receberam o apoio tácito das Organizações Globo. Se houve um presidente que atacou o desequilíbrio causador do inchaço das metrópoles brasileiras foi o atual, que recebe feroz oposição kameliana. Se houve um programa social bem sucedido para atacar a pobreza no Nordeste foi o Bolsa Família, que recebe feroz oposição kameliana.
A integração viária do Rio de Janeiro, que teria facilitado aos pobres chegar à Zona Sul, é um caminho de duas mãos. Pelas mesmas ruas e avenidas chega também a mão-de-obra barata, a criadagem que é fator essencial para reduzir as filas no "Garcia&Rodrigues".
O Rio é uma cidade espetacular e poderia fazer fortuna extraordinária com o turismo. No entanto, precisa atacar seus problemas essenciais, sem os quais jamais conseguirá preencher a sua vocação de bater Paris, Nova York e Roma como o maior destino turistico do mundo. E esses problemas essenciais são óbvios: segurança pública, saúde e educação. Não há outro caminho e não há como fazê-lo usando a polícia. Nem vai acontecer da noite para o dia, assim com a decadência do Rio foi lenta e gradual.
Mas isso só será possível quando algum projeto político for capaz de romper com a lógica afrikaner da elite carioca, que culpa Leonel Brizola e outros fantasmas pelos problemas que ela própria causou e continua a alimentar e que sonha com a eliminação física de pretos, putas e pobres enquanto financia o tráfico fumando maconha e cheirando cocaína. "
Esse Rio "ideal" persiste no cérebro dos mais velhos e é retransmitido aos mais novos como se fosse possível voltar no tempo. É, em minha opinião, a principal cola ideológica por trás da agenda política reacionária que a "intelectualidade" carioca agora persegue. Como a Globo é a principal empregadora no Rio de Janeiro, pouca gente se dispõe a contestar essa agenda reacionária. Ficamos entregues, portanto, ao ativismo de Ali Kamel e aqueles que fazem tráfico de influência com o ideólogo da Globo: cineastas, escritores e jornalistas que, direta ou indiretamente, dependem da Globo para promover seus filmes, livros e projetos.
Políticos, mesmo os que se definem como progressistas, não ousam dar um pio contra os interesses da Globo. Todos querem botar a cara no Jornal Nacional e sonham com os holofotes da Globonews, que ninguém é de ferro. Isso contribui para a atrofia intelectual do Rio de Janeiro e para negar um dos princípios que fizeram da cidade o que ela foi nos anos 60: arejada, aberta às novidades e às influências que chegavam de fora.
A leitura de "O Globo", hoje, é reveladora de uma agenda política e cultural reacionária que reflete uma tentativa de voltar àquele Rio dos anos 60: criminalização dos movimentos sociais, dos pobres em geral e dos que os representam, em especial de Leonel Brizola e seus herdeiros políticos.
É como se fosse possível fechar os túneis, remover os pobres e criar um Projac frequentado apenas pelos brancos de olhos azuis, por mulatas de novela, uma "democracia racial" de fachada onde os negros saibam seu lugar e a classe média possa deixar o carro sobre a calçada com a porta aberta.O fato é que o Brasil mudou e, com ele, o Rio de Janeiro. A migração interna transferiu milhões de pessoas para as metrópoles brasileiras por conta do desequilíbrio econômico regional e com incentivo das novelas da Globo, que sempre venderam ao Brasil o "paraíso" carioca e a maravilha do consumo.
Não foi, portanto, o Brizola quem trouxe os pobres para o Rio de Janeiro. Foi um desequilíbrio econômico regional que vem de longe, aprofundado pelas políticas concentradoras de renda do regime militar. Essas políticas sempre receberam o apoio tácito das Organizações Globo. Se houve um presidente que atacou o desequilíbrio causador do inchaço das metrópoles brasileiras foi o atual, que recebe feroz oposição kameliana. Se houve um programa social bem sucedido para atacar a pobreza no Nordeste foi o Bolsa Família, que recebe feroz oposição kameliana.
A integração viária do Rio de Janeiro, que teria facilitado aos pobres chegar à Zona Sul, é um caminho de duas mãos. Pelas mesmas ruas e avenidas chega também a mão-de-obra barata, a criadagem que é fator essencial para reduzir as filas no "Garcia&Rodrigues".
O Rio é uma cidade espetacular e poderia fazer fortuna extraordinária com o turismo. No entanto, precisa atacar seus problemas essenciais, sem os quais jamais conseguirá preencher a sua vocação de bater Paris, Nova York e Roma como o maior destino turistico do mundo. E esses problemas essenciais são óbvios: segurança pública, saúde e educação. Não há outro caminho e não há como fazê-lo usando a polícia. Nem vai acontecer da noite para o dia, assim com a decadência do Rio foi lenta e gradual.
Mas isso só será possível quando algum projeto político for capaz de romper com a lógica afrikaner da elite carioca, que culpa Leonel Brizola e outros fantasmas pelos problemas que ela própria causou e continua a alimentar e que sonha com a eliminação física de pretos, putas e pobres enquanto financia o tráfico fumando maconha e cheirando cocaína. "
2 comentários:
Salve, Gabi!
Pois é, tenho vergonha de viver em um país que idolatra roberto carlos e não acolhe Nelson Sargento (e tantos outros que nos brindam com talento e sabedoria).
Viva Nelson Sargento! Saravá, Nei Lopes!
Velho Briza, que falta você faz...
Beijão, querida cyberamiga!
Grande texto!
Abraços!
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