sexta-feira, 29 de maio de 2009

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Interpelou-me a jovem Gabriela sobre Segurança Pública e eu procurei desconversar, não queria abordar o tema e preferi sair pela tangente, frustrando a expectativa da jovem, que buscava uma parceria que pudesse ajudá-la a “mudar o mundo”. Ora, dourados foram os anos que eu ainda achava que poderia fazê-lo, porém, hoje, mais maduro e consciente já não penso em mudá-lo na marra, à força como busca fazer os movimentos estudantis de outrora, mas ainda assim lanço um grito mudo e tímido na esperança de ouvi-lo ecoar...
O foco de minha conversa com aquela jovem era a tão na moda “Segurança Pública” e esta dita segurança pública que doravante em meu texto passarei a dominar “Insegurança Pública”, embora à primeira vista passe a impressão de que tudo se resume na ação das polícias nas ruas, agindo de forma truculenta, matando e morrendo, numa banalização da vida humana que não merece maior repercussão que uma nota num jornal sangrento por onde o leitor passa os olhos enquanto aguarda o trem lotado.
Oh, jovem GABI !, Insegurança Pública guarda em seu bojo um conteúdo maior e de maior complexidade.
Para entender com clareza o que quero dizer, basta que nos coloquemos de forma imaginária no lugar de uma mãe que com o filho nos braços aguarda por horas na fila de atendimento médico e trêmula e impotente o vê morrer à míngua em seus braços(o único lugar que a criança julgava ser seguro). Se essa terrível suposição não for suficiente para esclarecer o que é Insegurança Pública, ocupemos então a posição de um aluno da rede pública quando este se vê numa sala de aula sem professores, ou com professores desestimulados pelos baixos salários, mas que ainda assim se sentem obrigados a dar um jeitinho em nome de uma política educacional no mínimo equivocada. A posição desse aluno não deve ser nada confortável diante da possibilidade de ter que disputar uma vaga numa universidade, tendo como concorrentes aqueles que chegam nos renomados cursinhos em seus carrões, trazidos por seus motoristas particulares, para no final disputarem a mesma vaga no mercado de trabalho...
Desculpe, GABI se estou deixando mais uma vez transparecer estar saindo pela tangente, mas, não se pode falar de Insegurança Pública sem falar da evasão dos alunos das salas de aula e a despeito disso, convido-te a refletir sobre o futuro de cada um desses jovens e mesmo sem querer especular atrevo-me que o sinal de trânsito lhe será mais atraente se comparado com a sala de aula que pouco ou nenhum futuro pode lhe oferecer.
Ah, falando em sinal de trânsito... Este pode vir a ser um perigoso trampolim para as bocas de fumo, uma vez que os jovens, sem expectativas, não se vêem diante de muitas opções e ficam a mercê da sorte pela necessidade de ingresso no mercado de trabalho, até mesmo pela necessidade de sustentar o filho que prematuramente teve por falta educação(recaímos mais uma vez no tema educação, quando na verdade o tema seria Insegurança Pública...) Desculpe se pareço repetitivo.
O fato é que enquanto tudo isso acontece, ou melhor, acontece o que não devia e deixa de acontecer aquilo que se deseja que aconteça para a formação de uma sociedade mais justa e, consequentemente segura, Brasília continua “bombando” com suas CPI que a pouco ou a nenhum resultado chegam por absoluto jogo de interesses dos respeitáveis parlamentares que na segurança de seus carrões blindados, protegidos por películas ou na intimidade de seus gabinetes, brincam com suas secretárias.
Desculpe GABI, se peguei pesado, ou se te frustrei ao mudar de foco, mas não poderia falar sobre Insegurança Publica sem citar aqueles que representam o Estado, a quem, em primeiro plano compete fornecê-la e mantê-la.
Quanto à polícia nas ruas matando e morrendo, GABI... É apenas o reflexo de uma política governamental indiferente e de uma sociedade hipócrita e corrompida.
Antônio
(Policial Militar do Estado do Rio de Janeiro)
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ps:Meu mais novo amigo Antônio,obrigada pelas palavras.Aguardo novas opiniões e novos papos como o último,por sinal,fantástico!
Saúde
Gabriela

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