sábado, 16 de maio de 2009

Prevenção de HIV/aids: sexo seguro

por Conceição Lemes


1980. Surge em São Paulo o primeiro caso de aids no Brasil. Considera-se alguém com aids quando começa a apresentar certos tumores e infecções devido à baixa imunidade provocada pela infecção pelo HIV.
2009. A cada ano, mais de 35 mil brasileiros recebem o diagnóstico de aids. De 1980 a junho de 2007, foram identificados 474.273; em 1985, havia 15 casos em homens para 1 em mulher. Atualmente, a relação é de 1,5 para 1. Em ambos os sexos, a maior parte se concentra na faixa etária de 25 a 49 anos. Porém, tem-se verificado aumento da doença na população acima dos 50, tanto em homens quanto em mulheres. A principal forma de transmissão é a sexual, ou seja, sexo sem camisinha. Os dados são do Programa Nacional de DST e Aids do Ministério da Saúde.
A boa notícia vem de outra pesquisa do próprio Ministério da Saúde: 94% da população brasileira cita a camisinha como a forma de prevenção do HIV. Esse índice independe de sexo, faixa etária ou escolaridade. O uso regular e consistente do preservativo masculino tem aumentado. Porém, ainda está longe do ideal. Por exemplo, na faixa de 16-19 anos, 51,5% dos homens e 32,6% das mulheres fazem uso regular. Na faixa de 20-24, 38,0% e 23,4%, respectivamente. A primeira relação sexual dos meninos ocorre, em média, aos 15 anos; das meninas, aos 15,9.
“Mas eu ouço essa história há mais 20 anos. Como é que as pessoas ainda não usam?”, talvez alguém na faixa dos 40-60 rebata. “Esse discurso da prevenção parece disco quebrado; toca sempre a mesma música.”
“Primeiro, há sempre uma distância entre o nível de informação e a prática. Segundo, novas gerações surgem e precisam ser informadas. Terceiro, há pessoas das gerações mais antigas que não foram atingidas pelo discurso inicial da prevenção, mas que agora precisam aprender. Por exemplo, algumas descasaram e voltaram ao mercado sexual, outras mudaram de orientação sexual”, justifica psicóloga Vera Paiva, professora do Instituto de Psicologia da USP e assessora dos programas brasileiro e das Nações Unidas de DST/Aids. “Tem que se bater na tecla da prevenção em todos os lugares, o tempo inteiro.”

Leitores do Viomundo - BLOG DE LUIZ CARLOS AZENHA - ajudaram a formular as perguntas aos especialistas. Participam desta: a psicóloga Vera Paiva, que também é pesquisadora da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos; o médico infectologista Marco Antônio de Ávila Vitória, do corpo técnico do Departamento de HIV da Organização Mundial da Saúde (OMS), em Genebra, Suíça; o médico Francisco Inácio Bastos, pesquisador sênior da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro; e o sociólogo Ivo Brito, coordenador da Unidade de Prevenção do programa Nacional de DST/Aids do Ministério da Saúde


Viomundo – Há pessoas que ainda acreditam que o HIV não passa de mulher para homem. O que o senhor diria para elas?
Marco Vitória – Está cientificamente comprovado que isso não é verdade. Teoricamente a mulher tem um risco maior de infectar-se devido a fatores anatômicos e maior vulnerabilidade social em muitas culturas. Porém, o homem também tem risco importante de se contaminar se tiver relações sexuais sem uso de preservativo com mulher infectada pelo HIV. O vírus da aids pode passar de homem para mulher e de mulher para homem, desde que um dos parceiros seja portador do HIV.


Viomundo – O leitor Juliano pergunta: em que circunstâncias o HIV pode passar da mulher para o homem? É preciso ele ter algum ferimento no pênis para isso ocorrer?
Marco Vitória – Insisto: a transmissão é bidirecional. Sempre que houver contato sexual com troca de fluidos contaminados – leia-se esperma, secreção vaginal e sangue – existe risco tanto para homens quanto para mulheres. Alguns fatores podem aumentar esse risco. Por exemplo, lesões na pele ou na mucosa dos genitais causadas por machucados ou doenças sexualmente transmissíveis. Mas atenção. Mesmo na ausência de ferimentos genitais, a transmissão do HIV pode ocorrer.
Ivo Brito - As DST (doenças sexualmente transmissíveis) são o principal facilitador da transmissão sexual do vírus da aids; feridas nos órgãos genitais favorecem a entrada do HIV. Gonorréia, sífilis, herpes, HPV (papilomavírus humano), corrimento vaginal e doença inflamatória pélvica são algumas das DST. A infecção pelo HIV também é uma DST.


Viomundo – Esta dúvida é da leitora Vanessa: mesmo que não haja ejaculação durante o ato sexual, é possível a mulher ser infectada caso o parceiro tenha o HIV?
Francisco Bastos – É possível, sim, embora a probabilidade seja bem menor do que na relação completa, com troca de secreções. A secreção que antecede a ejaculação também tem partículas virais do HIV, ainda que em pequena quantidade. Portanto, a camisinha tem que ser colocada antes da penetração para que não haja risco de transmissão pela secreção pré-ejaculação. Também para que não haja o risco de homem não controlar a excitação e ejacular mesmo que não queira.

Viomundo – Mas colocar a camisinha antes da penetração visa também prevenir a transmissão de outras DST?
Ivo Brito - Com certeza. As DST são doenças causadas por vários tipos de microorganismos. Transmitidas principalmente por contato sexual sem o uso de camisinha com pessoa infectada, as DST geralmente se manifestam por meio de feridas, corrimentos, bolhas ou verrugas. O uso de preservativos em todas as relações sexuais é o método mais eficaz para a redução do risco de transmissão do HIV e das demais DST.


Viomundo – Masturbação a dois transmite o vírus da aids, caso um dos parceiros seja soropositivo?
Ivo Brito - Não se pega nem se transmite HIV, praticando masturbação a dois.

Viomundo – Com que formas de sexo se pode pegar o HIV?
Ivo Brito – Sexo vaginal, anal e oral – sem camisinha.

Viomundo – Qual o risco do sexo anal? É maior para quem penetra ou para quem é penetrado?Francisco Bastos -Na ausência de camisinha, o risco é bastante elevado, pois a mucosa anal não tem defesas naturais que possam barrar a invasão do tecido local pelo HIV. O risco é substancialmente maior para quem é penetrado (sexo anal receptivo) do que para quem penetra (sexo anal insertivo). Aquele que penetra tem riscos basicamente vinculados a micro-lesões na ponta do pênis (em geral, invisíveis a olho nu), onde o HIV pode penetrar. Já quem é penetrado – desde o parceiro ou parceira não use camisinha – receberá a pré-ejaculação e a ejaculação em uma superfície friccionada. Portanto, bastante suscetível à transmissão do HIV.

Viomundo – As micro-lesões são mais freqüentes no sexo anal do que no vaginal?
Francisco Bastos – Seguramente. A razão é óbvia: o ânus é habitualmente mais estreito e menos lubrificado do que a vagina. Por isso, no sexo anal, a camisinha deve ser lubrificada. Caso não seja, deve ser usada junto com lubrificantes apropriados. Cuidado na hora de escolher, pois alguns podem danificar a camisinha. Lubrificantes são vendidos em farmácias. Também estão disponíveis em algumas unidades de saúde e organizações não-governamentais.

Viomundo – Meu problema é educacional, afirma o leitor Leider Lincoln. Sou professor da rede privada e percebo que parcela considerável de meu alunado, conquanto o sexo seja feito com namorada (o) ou uma pessoa "a quem se ama", oferece apenas o risco de gravidez, pelo que elas usam a pílula, mas eles, muito raramente a camisinha. O que faço?
Vera Paiva – Você tem que fazer o que já está fazendo. Falar com eles e elas sobre o assunto. É preciso dizer com todas as letras que a pílula não previne o HIV e a camisinha é o único método que protege ambos tanto da gravidez indesejada quanto do HIV. Para os meninos, o argumento mais poderoso é lembrá-los de que a camisinha é o único método que lhes dá o poder de controlar quando vão engravidar ou não. Ou seja, eles terão o controle da própria reprodução e não ficarão à mercê das meninas. Com isso, ajudarão meninos e meninas. Já as meninas não vão usar camisinha, porque é anatomicamente impossível; a “tecnologia” delas é a conversa, convencer o rapaz a usar. Por isso, o melhor modo de conciliar essa discrepância de poder é trabalhar os meninos.
Viomundo – “Pô, mas as meninas esquecem a pílula de sacanagem...”, alguns meninos vão dizer. Vera Paiva – Tomar a pílula todo dia não é fácil, cara. Elas não fazem isso de propósito. Se você esquece o celular em casa, por que elas não podem esquecer a pílula um dia? E pílula não tomada corretamente, aumenta a possibilidade de falha. Não jogue toda a responsabilidade pela segurança das relações sexuais nas costas dela. É responsabilidade sua também. Use camisinha e proteja vocês dois.
Viomundo –Velhos estão morrendo de aids por não utilizar camisinha e ingerir drogas que mantêm a ereção. Passam o vírus para as suas parceiras, novas e velha...
Vera Paiva - Realmente, isso está ocorrendo. Simbolicamente o homem na terceira-idade associa a camisinha como algo que atrapalha a ereção. Só que não é verdade. Se você incorpora a camisinha ao jogo erótico de uma forma mais ampla, ela não atrapalha. Por exemplo, a mulher colocar a camisinha em você; fica mais excitante. Usar a lubrificada ajuda a ereção. Tem mil e um recursos. Mas o mais difícil é o fato de o homem hoje na terceira-idade não ter começado a vida sexual com camisinha. Outra coisa que observo: a “dificuldade” depende do contexto. Quando é com trabalhadoras do sexo, em geral não têm tanta dificuldade. Agora, se é com mulheres mais jovens ou da mesma idade, o “problema” aparece. Portanto, homens e mulheres da terceira-idade: vocês são vulneráveis também ao HIV. A prova é o crescente número de homens e mulheres infectados acima de 50 anos. Portanto, prevenção de HIV/aids tem a ver com vocês também.
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Observação : A camisinha é uma “vacina” tripla. Protege contra o HIV, demais DST e gravidez indesejada. É o verdadeiro método três em um.O amor não protege ninguém do HIV. Lembre-se de que ao transar sem camisinha, você faz sexo não só com o (a)parceiro (a) atual. Você "transa" também com os ex de ambos.
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Sexo não tem idade para acabar. Proteção também não. Use camisinha. É coisa de mulher segura. A vida sexual continua depois dos 50. E toda mulher tem o direito de exercer a sua sexualidade e de se cuidar. Por isso, a camisinha é tão fundamental. Ela protege você do HIV e de muitas outras doenças. Use. Mostre que você tem postura (campanha do Ministério da Saúde para o carnaval de 2009).
Ósculos e Amplexos
Gabi

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