Pela primeira vez na história da humanidade, o número de desnutridos ultrapassa a incrível barreira de 1 bilhão de pessoas, revelando um aumento em boa parte debitado à crise econômica que afeta o mundo desde o ano passado. A projeção consta em relatório divulgado ontem pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), órgão das Nações Unidas encarregado de adotar providências e estudar as questões relacionadas a esse tema sensível. A relação entre crise e a fome ou desnutrição foi estabelecida porque, desde que os efeitos da turbulência global se manifestaram, o planeta aumentou seus desnutridos em 100 milhões, 11% sobre o ano anterior, o que significa que agora está nesta condição um em cada seis habitantes.
A questão da fome e da desnutrição, existindo numa proporção tão elevada e respondendo com tanta intensidade à situação de crise, identifica um dos maiores fracassos de uma humanidade que não consegue prover de alimentos uma parcela tão elevada de sua população. O alimento, como a água, é a mais radical das necessidades humanas. Em 1996, na Cúpula da Alimentação, 180 países subscreveram um compromisso para reduzir, até 2015, a insegurança alimentar do mundo, o que significaria uma queda no número de desnutridos e famintos. A realidade mundial está frustrando essas metas e ampliando o desafio que pesa sobre as organizações multilaterais, sobre os países produtores e sobre o comércio internacional. A própria FAO entende que não é necessariamente a incapacidade de produzir alimentos a causa do drama da subnutrição. O mundo tem terras e tecnologia capazes de suprir a demanda atual. O que há é uma distribuição insuficiente e uma impossibilidade de os países do círculo da fome adquirirem os alimentos. A geografia dos famintos atinge basicamente as regiões pobres da Ásia (642 milhões), da África (265 milhões) e da América Latina, pela ordem. Há 53 milhões de latino-americanos contabilizados na estatística da FAO. Há também 15 milhões de desnutridos nos países ricos.
“A crise silenciosa da fome cria um risco grave para a paz e segurança mundial”, afirmava ontem em Roma o diretor-geral da FAO, Jacques Diouf. “Precisamos urgentemente formar um consenso amplo para a erradicação total e rápida da fome.” Esta realidade e o apelo da FAO impõem urgência nas decisões para a superação da crise e reforça o papel do Brasil como produtor mundial de alimentos. No caso específico dos países em condições de serem os celeiros do mundo, como o nosso, amplia-se a responsabilidade estratégica, de imenso sentido social, de tornar efetiva essa vocação. É a própria FAO que aponta o caminho a ser percorrido ao sugerir que crédito, assistência técnica, sementes, fertilizantes e condições de comercialização sejam aperfeiçoados, garantindo, com a produtividade do campo, mais alimentos nas mesas dos pobres. O Brasil, com sua experiência de sucesso na ampliação da produção de alimentos, tem o que dizer nesta questão.
Fonte:Zero Hora
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