terça-feira, 25 de agosto de 2009

Doença de Chagas

Entre março e agosto deste ano, o Instituto Evandro Chagas, atuando em colaboração com a Secretaria de Saúde do Estado, identificou 22 casos agudos de doença de Chagas no Pará. Ao dar ontem a informação, o pesquisador-chefe do laboratório de doença de Chagas do IEC, Aldo Valente, ressaltou que o surto com maior número de casos ocorreu numa comunidade rural do rio Mutuacá, no município de Curralinho, extremo sul da ilha do Marajó.
Naquela localidade, segundo o pesquisador, foi acometido um grupo de 14 pessoas, com transmissão provavelmente associada à ingestão de açaí consumido de uma única fonte. Os pacientes, com sintomas gerais de febre prolongada, cefaleia, calafrios e mialgia (dor muscular), tiveram suspeita inicial de malária. Eles receberam atendimento inicial no Hospital Municipal de Curralinho e depois foram encaminhados à Sespa e ao Instituto Evandro Chagas, em Belém, para confirmação diagnóstica e tratamento.
Informou Aldo Valente que o Instituto Evandro Chagas, a Secretaria de Saúde do Estado e a Secretaria Municipal de Curralinho estiveram no local e estão investigando os casos. Todos os pacientes diagnosticados no IEC, em Curralinho e em outros municípios do Pará, conforme frisou, estão sendo tratados de acordo com o protocolo estabelecido pelo Ministério da Saúde e acompanhados no Hospital das Clínicas em colaboração com a Sespa.
Os demais casos da doença de Chagas, conforme ressaltou o pesquisador-chefe do IEC, foram registrados nos municípios de Paragominas, Belém, Moju, Castanhal, Abaetetuba e Barcarena. Aldo Valente fez a ressalva de que os dados disponibilizados pelo Evandro Chagas podem não ser exatamente os mesmos contabilizados pela Secretaria de Saúde. A hipótese de divergência nos números, segundo Aldo Valente, deve ser admitida considerando-se que a Sespa trabalha possivelmente com uma casuística maior, contemplando casos que não tenham sido diagnosticados no IEC.

PREOCUPAÇÃO

A diretora do Instituto Evandro Chagas, Elisabeth Santos, se mostra preocupada com a situação. Esses surtos que pipocam em tantos lugares ao mesmo tempo, com um ou dois casos em cada lugar, costumam ser quase sempre, segundo ela, a “pontinha” de um iceberg. “Basta procurar”, disse Elisabeth Santos, acrescentando que os demais casos às vezes ficam sem diagnóstico e os pacientes podem até morrer.
A diretora do Evandro Chagas deixou claro que os casos registrados em Belém e nos municípios de Paragominas, Moju, Castanhal, Abaetetuba e Barcarena precisam ser ainda melhor investigados pelo Instituto. A direção e os pesquisadores do IEC trabalham com a hipótese de que também nestes casos a infecção tenha ocorrido por via oral, muito provavelmente pela ingestão do açaí contaminado pelo parasito Trypanosoma cruzi. Teme-se, por isso, que possa ser bem maior o número de pessoas infectadas, mas que não tiveram a confirmação diagnóstica e que por isso permanecem sem qualquer tratamento.
No ano passado, de 123 casos confirmados de doença de Chagas aguda confirmados no Brasil pelo Ministério da Saúde, 116 ocorreram na região Norte, sendo 92 somente no Pará e praticamente todos eles tendo transmissão oral, provavelmente associada à ingestão de açaí contaminado pelo protozoário causador da doença.
Fonte:(Diário do Pará)

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