De trás das grades, uma nova profissão
Nos moldes de figuras desenhadas no tecido, o aprendizado de uma nova profissão. Da ponta da agulha ao colorido das linhas no bordado, a esperança de dias melhores fora da prisão. É no trabalho cuidadoso do artesanato de Patchwork, em toalhas de louça, que 43 detentas do Presídio Santa Augusta desenvolvem, a menos de um mês, o autoconhecimento, imaginação e seus potenciais criativos. Mantido pela Justiça Federal, o projeto "Mãos que criam" tem proporcionado a ressocialização e a capacitação formativa de mulheres que um dia entraram no mundo do tráfico e foram parar atrás das grades.
Seguidas semanalmente, a ocupação do curso de Patchwork no galpão da ala feminina movimenta a rotina das mulheres no presídio e leva as presas à busca de conhecimento. Como a maioria das integrantes do grupo, M.V.M., 20 anos, foi presa por tráfico de drogas. Obrigada a cumprir pena em regime fechado, a jovem começa a encontrar na técnica do Patchwork a oportunidade de trabalho e renda quando ganhar a liberdade. "Quando sair nas ruas quero continuar a fazer o artesanato nas toalhas de louça. É uma oportunidade que estamos recebendo aqui e que nunca tivemos do outro lado das grades. Minha mãe é costureira. Quem sabe montamos juntas um negócio", diz a detenta, fazendo planos para o futuro. Colega de cela, S.L., 28, disse que aprendeu a arte do Patchwork nas aulas promovidas pela Justiça Federal. "Não sabia fazer nada. Estou gostando muito. A cada aula quero aprender mais. Antes batia ganchos (confecção de prendedores de roupa). Poderiam ampliar com mais aulas", conta a jovem, mãe de quatro filhos e presa há cinco meses.
Segundo a professora de Patchwork, a psicóloga Camila Milioli Preve, a cada aula é nítido o crescimento e interesse das alunas. "Elas me surpreendem a cada dia com a facilidade de aprendizado. Estamos na terceira aula, na primeira tiveram várias detentas que não queriam frequentar as oficinas. Hoje elas não querem mais sair", lembra. Para daqui alguns meses, o grupo pretende montar uma feira para comercializar as toalhas. "Foi acordado que 50% ficará para elas e os outros 50% retornará para o projeto, na compra de novos materiais. A atividade é desenvolvida no regime de prestação de serviço", explica a psicóloga. As aulas são ministradas todas as terças-feiras, no período matutino e vespertino. O grupo é dividido em duas turmas.
Iniciativa é considerada pioneira nos estados do Sul
A iniciativa da Justiça Federal de Criciúma, que atende a 4ª região, é considerada pioneira entre os três estados (RS, SC e PR). Por meio de recursos, viabilizados de prestações peculiares, de condenações de crimes, ao todo são mantidos seis projetos em andamento na cidade. O investimento gira em torno de R$ 13 mil.
Além dos trabalhos desenvolvidos com as detentas do Presídio Santa Augusta, são realizados convênios com entidades públicas e sociais. Na Associação de Pais e Amigos do Autista (AMA), a oficina "Integrar é possível" atende 40 alunos; o projeto "Aprendendo a aprender" viabiliza atividades educacionais a alunos do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti). Com aulas de Hip Hop e Street Dance para a terceira idade e o desenvolvimento de atividade da socioterapia são atendidas cinco casas de repouso para idosos, em Criciúma. Também são contemplados nas oficinas de Editoração Eletrônica adolescentes do Centro de Internamento Provisório (CIP).
Coordenado pelo juiz federal da 1ª Vara de Criciúma, Marcelo Cardoso da Silva, em média, os projetos atendem por mês, em torno de 500 pessoas. Algumas atividades são ministradas diariamente. "Queremos otimizar, fomentar projetos sociais. Como o propósito é trabalhar a vulnerabilidade, depois de várias análises chegamos ao Peti, detentas, AMA, Cras e idosos. Resolvemos diversificar. A partir dos convênios com as entidades, os trabalhos iniciaram em maio de 2008. O projeto "Hip Hop" e o "Mãos que criam" iniciaram nesse mês de julho", explica o juiz federal.
Segundo Silva, a ideia é fugir do assistencialismo. "Queremos que os recursos se multipliquem em possibilidades sociais. A ideia é a inclusão social. Queremos investir em pessoas. Anteriormente, não havia estratégicas para a aplicação dos recursos. São maravilhosos os resultados, compensatório. Com pouco dinheiro auxiliamos casos de riscos sociais. Na nossa sociedade não há tantos investimentos em idosos. Estamos estudando em ampliar novos projetos", ressalta. São envolvidos cinco executores de projetos e uma assistente social.
Na última sexta-feira foi encaminhado e assinado o sétimo convênio. O projeto Comunicação atenderá 120 adolescentes em risco social e vulnerabilidade, do bairro Tereza Cristina. Com aulas de técnica vocal, teatro, música e poesia, os alunos irão sair da rua e aprender a compor. Um estúdio será montado na localidade. No final de cada álbum, o lançamento do CD.
Maior interação e barreiras do preconceito quebradas
Um novo sentido à vida, quebrando as barreiras do preconceito e inserindo na sociedade crianças e adolescentes com síndrome de autismo. É com este caminhar que o projeto "Integrar é possível", da Justiça Federal, vem atender alunos da escola Meu Mundo e abrir espaços a novas mudanças. Com atividades nas produções de caixas decorativas, a oficina de artes envolve cerca de 40 alunos.
Todas as atividades respeitam as potencialidades de cada estudante. "Na oficina de artesanato em madeira, eles lixam, pintam e decoram, sempre auxiliados por nós. Vejo que eles gostam bastante de frequentar as aulas. Eles sabem até o dia que terão as aulas. Vendo o concreto, eles percebem que podem fazer algo mais", diz a pedagoga Rosane Freitas Glashorester.
Lucas Inácio, dez anos, é um dos alunos do projeto "Integrar é possível" e diz adorar pintar. Segundo a pedagoga, desde que começou a frequentar as atividades, o garoto melhorou sua forma de se expressar com as pessoas. "Ele possui baixa visão. Com o desenvolvimento das atividades, Lucas melhorou, consideravelmente, no desempenho de outras aulas". Todos os adolescentes, nas aulas, são auxiliados pela profissional para o desempenho das atividades. A venda das caixas decorativas é revertida na compra de materiais para a escola.
Para a diretora da Associação de Pais e Amigos do Autista (AMA), Ivone Miranda Rosa, o projeto oferece oportunidades para os alunos se desenvolverem. "A maioria tem defasagem mental e não deficiência mental. O projeto abre campos para ampliar a interação, aprendizagem e contato com a sociedade", diz Ivone.
Outros projetos
Street Dance na Terceira Idade
Alguns dos objetivos: Procurar uma maior responsabilidade e troca de conhecimentos e experiências nas "atividades dançantes", realizadas com os idosos para enriquecer e ampliar possibilidades dentro da cultura corporal de movimento, dando uma maior satisfação e prazer para os mesmos. Enfrentar o envelhecimento de modo consciente; livrar-se dos preconceitos e buscar saúde e prazer praticando atividade física.
Atendimentos: A oficina é oferecida em cinco asilos: São Vicente de Paulo, Rede Vida, Feistauer, Cantinho do Idoso e Valentes de Davi. O atendimento é uma vez por semana com a duração de quatro aulas de (60min). São oferecidas aulas de alongamento/relaxamento, Street Dance/consciência corporal, caminhada direcionada e atendimento para os acamados.
Aprendendo a aprender
O projeto visa apresentar propostas para dirimir as dificuldades de aprendizagem dos alunos integrantes do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil de Criciúma (PETI). Trabalha o processo de alfabetização por meio de atendimentos individuais, atendimentos em grupo, atendimento à família, acompanhamento nas escolas e oficinas. Com encontros semanais, atende o Peti da Vila Miguel e Renascer.
Cuidando de si
Proporcionar aos idosos, através de vivências socioterápicas, um momento de reflexão, sensibilização e conscientização, trabalhando suas emoções, sentimentos e motivações, de forma a resgatar a autoestima, autoimagem, autoconhecimento, autoconfiança e amor próprio de cada um. Oportunizar momentos de lazer, descontração, divertimento e relaxamento e promover a integração e interação dos idosos no grupo, desenvolvendo relações de amizade, afetividade e cooperativismo. Com encontros semanais, de 120 horas mensais, são atendidos idosos do Asilo São Vicente de Paulo, Lar 3ª idade Rede Vida, Lar de Auxílio aos Idosos Feistauer, Cantinho do Idoso e Valentes de Davi.
Oficina de Editoração Eletrônica
A Oficina de Editoração Eletrônica iniciou em junho de 2008. Seu objetivo principal é capacitar adolescentes na arte da editoração eletrônica, por meio da utilização dos principais programas, como Corel DRAW, PageMaker e Adobe Photoshop, usados na elaboração de materiais impressos como livros, revistas, jornais, folhetos, outdoor, dentre outros. Desde o seu início foram contemplados adolescentes do CIP - Centro de Internamento Provisório, Abrigo Municipal de Criciúma, Casa da Criança e do Adolescente e do programa de Liberdade Assistida. No segundo semestre de 2009, o projeto passa a contemplar o Cras do bairro Tereza Cristina e a Ong Cidadania em Ação, que tem como foco o bairro Anita Garibaldi, ambos em Criciúma. Além das aulas de editoração eletrônica, são ministradas aulas de conteúdo básico. A carga horária é de 140h/mês.
fonte:A tribuna - Criciúma
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