segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Milhares de homens estão fazendo circuncisão na África do Sul

Busca cada vez maior por circuncisões contrasta com recursos de combate do governo africano.

Milhares de jovens vão à única clínica para circuncisões na África do Sul. Cada um deita em uma das sete mesas de cirurgia próximas umas das outras e separadas apenas por um pano verde.
- Fiz 53 em um dia de trabalho de sete horas - conta Dino Rech, médico que ajudou a criar o espaço altamente eficiente para realizar cirurgias nessa clínica financiada por franceses.

A circuncisão mostrou que reduz o risco de um homem de contrair HIV por mais da metade. Ainda assim, dois anos depois de a Organização Mundial de Saúde (OMS) recomendar a cirurgia, o governo do país ainda não a oferece para ajudar a combater a doença ou educar o povo sobre seus benefícios.

Outros países africanos estão oferecendo o procedimento a milhares de pessoas. Mas na África do Sul, país central no coração da epidemia, o governo tem mantido silêncio sobre a questão, apesar das duras críticas internacionais que o país tem enfrentado por fracassar em combater e tratar a AIDS.

- Países ao nosso redor com menos recursos, tanto humanos quanto financeiros, são capazes de atingir mais - observa Quarraisha Abdool Karim, o primeiro diretor do programa nacional da África do Sul de combate a AIDS, iniciado durante o governo do presidente Nelson Mandela. - Eu queria entender por que a África do Sul, com uma quantidade invejável de recursos, não é capaz de responder à epidemia da forma como Botsuana e Quênia o fazem.

Mesmo sem envolvimento do governo, a demanda pela cirurgia, feita de forma gratuita com anestesia local, aumentou no ano passado na clínica de Orange Farm. Ainda assim, os homens recebem conselhos para continuar a usar camisinhas, uma vez que a circuncisão protege parcialmente.

Os homens costumam aguardar nervosos. A maioria esperava que o procedimento os ajudasse a ficar saudáveis no país com mais pessoas infectadas pelo HIV do que qualquer outro. Mas alguns admitiram ter outra motivação surpreendente e poderosa: ouviram de amigos recém-circuncidados que o sexo melhorou. Eles dizem que dura mais, que as amantes acham que o cara é mais limpo e excitante na cama.

- Minha namorada estava me perturbando para fazer isso - lembra Shane Koapeng, 24 anos. - Então resolvi fazê-lo.

Como novas infecções por HIV continuaram a superar os esforços para tratar os doentes na África, aumenta a preocupação com a elevação dos custos do tratamento para um número cada vez maior de pacientes que precisam de remédios para o resto de suas vidas. Quase 2 milhões de pessoas foram infectadas em 2007 na África Subsaariana, aumentando o total dos que vivem com HIV na região para 22 milhões, segundo estimativas da Organização das Nações Unidas.

Os grandes doadores internacionais para programas de AIDS, incluindo os Estados Unidos e o Fundo Global para a Luta contra AIDS, Tuberculose e Malária, estão prontos para fornecer dinheiro para circuncisão dos homens, mas os países têm de estar prontos para aceitar a ajuda.

- Você não pode impor isso estando de fora, particularmente uma intervenção tão sensível co-mo essa - observa o diretor-executivo do Fundo Global, Michel Kazatchkine.

Médicos da área de saúde pública concordam que circuncidar milhões de homens não será tarefa simples. A África sofre com falta de médicos e enfermeiras, e a circuncisão é potencialmente um campo minado político e cultural em países onde alguns grupos étnicos a praticam, mas outros não.

Projeto

Ainda assim, alguns países estão mostrando que pode ser feito. Em Botsuana, a circuncisão foi amplamente interrompida no fim do século 19 e início do 20 pelos missionários cristãos e administradores britânicos da era colonial. Mas Festus Mogae, presidente de 1998 a 2008, forneceu uma aprovação fundamental da circuncisão masculina antes de deixar o cargo.

No ano passado, o governo treinou equipes médicas para fazer circuncisões em todos os hospitais públicos e pretende até 2016 ter circuncidado 470 mil homens desde a infância até a idade de 49 anos - o que corresponde a 80% do número total nesse grupo.

Fonte: Jornal do Brasil - RJ

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