segunda-feira, 27 de julho de 2009

Aids cresce no Ceará

O mundo inteiro está mobilizado hoje em torno da luta contra a Aids. O alerta no Brasil, este ano, é para o avanço da doença em pessoas mais velhas, acima de 50 anos. No entanto, no Ceará, além da quantidade da população com 50 anos ou mais de idade também ter aumentado, o vírus HIV vem fazendo cada vez mais vítimas entre mulheres e crianças por transmissão vertical e adolescentes. No Dia Mundial de Luta Contra a Aids, além da prevenção de novos casos, há a busca por uma assistência que reduza a mortalidade pela doença e que traga qualidade de vida para as cerca de 8.076 pessoas que convivem com HIV/Aids no Estado.
“A Aids está presente em todas as faixas etárias e em todos os lugares do Ceará, não é só grave em pessoas mais velhas, mas nas mulheres, que geram crianças soropositivas, nos adolescentes, nos heterossexuais e homossexuais”, considera o diretor geral do Hospital São José (HSJ), infectologista Anastácio de Queiroz.
Dados do Informe Epidemiológico Aids, de agosto de 2008, da Secretaria da Saúde do Estado (Sesa), apontam que desde o primeiro registro da doença, em 1983, até julho de 2008, foram notificados 8.076 casos, sendo que 71% deles no sexo feminino e 29% no sexo masculino. A maior parte deles, 7.012 (86,8%), está presente na faixa etária de 20 a 40 anos.
As tendências da epidemia no Estado, conforme a Sesa, apontam para a feminização e interiorização dos casos. No início, em 1986, a razão entre os casos masculinos e femininos era de 11 homens para cada mulher e hoje, conforme o Anastácio de Queiroz, é de dois homens para cada mulher.
Para ele, a doença vem avançando em todos os aspectos e o diagnóstico tardio ainda é um problema, porque, muitas vezes, o paciente descobre que é portador do vírus HIV quando já está com alguma doença oportunista em estágio avançado, com poucas possibilidades terapêuticas. “Diariamente temos no hospital cerca de 40 pessoas internadas, quando existem apenas 32 leitos específicos para Aids. Muitos pacientes, até mesmo aqueles de nível social mais favorecido, têm diagnóstico tardio. Apenas jovens que se expõem a riscos é que fazem o exame de HIV de forma precoce”, disse.
Foi assim que aconteceu com Gisele (nome fictício), de 25 anos e portadora do HIV desde os 14 anos. “Só descobri que era soropositiva depois que o meu namorado morreu. Chegamos até a usar a camisinha, mas só no início do namoro. Ele foi o meu primeiro namorado. Quando eu fiz o exame e deu positivo, fiquei louca de verdade. Saí da escola, minha família me expulsou de casa, até me internaram em hospital psiquiátrico”, conta ela, que está há 30 dias no HSJ, em sua sétima internação, desta vez motivada pela interrupção do tratamento antiretroviral.
Se conviver com o vírus HIV já é difícil quando se é jovem, imagine quando acontece em idade mais avançada, quando naturalmente as defesas do organismo estão mais debilitadas. O infectologista Anastácio de Queiroz aponta que o indivíduo de idade avançada, quando contrai o vírus, tem muito mais possibilidades de desenvolver a doença por conta do período de incubação ser menor e também porque o organismo idoso é mais frágil e com o sistema imunológico já envelhecido.
Nos últimos cinco anos, houve um importante aumento dos casos na faixa etária acima de 50 anos no Ceará, conforme a Sesa. Do total de casos notificados até 2008, 8,5%, ou seja, 691 casos, são referentes a pessoas a partir de 50 anos.
A incidência da doença no Ceará, nessa população, quase dobrou nos últimos seis anos, passando de 1,3 em cada 100 mil habitantes, em 2001, para 2,2 casos em 100 mil habitantes, em 2007.
Segundo Anastácio de Queiroz, na população com mais de 50, a questão diagnóstico tardio ainda é mais acentuada. “São pessoas que iniciaram sua vida sexual sem a existência da Aids. A mudança no comportamento sexual da sociedade, as drogas que surgiram para melhorar libido e também a desinformação são fatores que sugerem esse aumento dos casos nessa faixa etária”, explica.
Fonte: http://www.aracatinet.com/?p=543

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