quinta-feira, 30 de julho de 2009

Diminuição da violência contra a mulher depende de homens e mulheres


Psicólogos e ONGS acreditam no trabalho com casais para “desnaturalizar” agressões

A Assembléia Geral das Nações Unidas, em dezembro de 1993, apontou fatores culturais, preconceituosos e temporais como as principais causas da violência contra a mulher. “Relações de poder historicamente desiguais entre homens e mulheres é que conduziram à dominação e à discriminação contra as mulheres pelos homens”, diz a Declaração sobre a Eliminação da Violência contra as Mulheres desta assembléia.
Sérgio Barbosa, da ONG Pró-Mulher, Família e Cidadania, que trabalha na redução dos casos de agressão à mulher, também afirma que a cultura da sociedade gera e estabelece como normal a violência. “Nas oficinas com homens, percebemos que a ‘identidade masculina’ vê a violência como algo quase natural, quase como sinônimo de masculinidade. O objetivo do nosso trabalho é ‘desnaturalizar’ essa violência que vai desde obrigar a companheira a servir a comida até ter relações sexuais forçadas”, conta.
Em pesquisa realizada pelo Ibope e pelo Instituto Avon em 2009, a questão cultural e o álcool são apontados pela população como principais motivadores de agressões contra a mulher. Para 36% dos entrevistados, “o homem brasileiro é muito violento/se considera ‘dono da mulher’” e 38% indica o alcoolismo como impulsionador das agressões.
O pensamento também é seguido pelo psicólogo Fernando Acosta, que acredita haver uma geração de homens educados de uma maneira que banaliza um ato violento. “A violência é tão corriqueira que muitos homens não a identificam. É uma geração que foi criada para não levar desaforo para casa”, disse ele em entrevista à revista Isto É no ano de 2004.
A Lei Maria da Penha, ou Lei Federal n° 11.340, foi sancionada em 2006 pelo presidente Lula e tem como função “coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher”. Segundo a pesquisa Ibope/Avon, 44% das pessoas entrevistadas acreditam que a medida já está tendo efeito e ajudará no combate à violência doméstica. Mas a Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM) revela que, apesar da redução de 47% no número de lesões corporais contra as mulheres, a média de agressões se manteve a mesma desde a aprovação há três anos.
A nova regra leva o nome da farmacêutica Maria da Penha Maia Fernandes que, após seis anos sofrendo agressões e tentativas de assassinato por parte do marido, ficou paraplégica. A Lei garante mais segurança e proteção às mulheres e impõem penas mais severas aos agressores. “É vedada a aplicação, nos casos de violência doméstica e familiar contra a mulher, de penas de cesta básica ou outras de prestação pecuniária, bem como substituição de pena que implique o pagamento isolado de multa”, diz o artigo 17 da Lei.
Contudo, Sandra Unbehaum, da ONG Ecos – Comunicação em Sexualidade, fala que a prisão não é a única solução e crê no trabalho com homens e mulheres para redução dos casos. “Para prevenir as DSTs, a gente tem um instrumento: a camisinha. Para prevenir a violência, a gente faz o que? Não dá para pôr todo mundo na cadeia. Então temos que encontrar novas saídas. Uma delas é mostrar a violência doméstica na mídia. Isso irá estimular que as pessoas pensem. Homens e mulheres precisam encontrar caminhos para a resolução de conflito”, diz a socióloga e coordenadora da ONG, que defende os direitos sexuais e reprodutivos de mulheres, jovens e adolescentes.
fonte: Blog Lírios e Letras

Nenhum comentário: