Ainda podemos ter nos mecanismos individuais situações em que a pessoa "precisa" demonstrar a atitude preconceituosa para buscar equilíbrio interno. Este é um mecanismo patológico em adultos que deveriam ter outras formas de administrar ansiedades e as interações com a realidade externa. Por meio de mecanismos e esquemas mentais inadequados, a pessoa mantém as idéias preconcebidas e age de acordo com elas, evitando cuidar das questões pessoais e desconhecendo as iminências internas e individuais. Estes são aspectos psicopatológicos que merecem tratamento para ajudar a minimizar e mudar causas de sofrimento individual.Será mais coerente que preconceitos existam e sejam valorizados dentro de determinadas características de personalidade -- eles também dependem do histórico de vida de cada pessoa. Isto explica a razão de existirem pessoas mais ou menos preconceituosas num grupo social, o que não é um transtorno, nem doença, mas pode ser sintoma de características psicológicas que poderiam ser tratadas para melhorar o relacionamento em sociedade, sem agressões e hostilidades. Alguém que desenvolve preconceitos precisa ser livre dos sofrimentos causados por eles. O preconceito gera hostilização na direção de pessoas e situações foco do preconceito. Enquanto hostiliza, a pessoa permanece em sofrimento pois, no mínimo, também sabe que não destruirá, ao menos totalmente, o objeto de preconceito. Trata-se de um sofrimento continuado, que se expressa pela agressão.A predisposição individual é a característica de personalidade que se manifesta em mecanismos de interpretação da realidade. Um dos exemplos mais simplistas é o da pessoa que sente que precisa se defender da idéia de ser possivelmente homossexual, em algum grau, mesmo que isso implique em nunca precisar de um relacionamento sexual homossexual. Para manter-se socialmente na identidade heterossexual, a pessoa busca lutar contra as expressões homossexuais. Ela compreende que é desta forma que impedirá que as necessidades internas se manifestem e favoreçam mais a existência de outras pessoas que o estimulem a vivenciar comportamentos homossexuais. Esta pessoa, ao invés de administrar estes desejos, seja controlando-os, seja compreendendo que não necessita deles, por exemplo, ataca a realidade, tentando modificá-la. Este é um comportamento muito comum para todas os indíviduos, sejam heterossexuais, homossexuais, assexuais... É aquela história: os casados que consideram que estar casado é o mais correto, militarão para que os solteiros deixem de ser solteiros, preferindo uma compreensão maniqueísta da realidade dos relacionamentos conjugais.Normalmente estas pessoas tem mecanismos cognitivos, de pensamento, de compreensão do mundo sempre divididos em apenas duas possibilidades. No caso da homofobia, que pode acontecer da mesma forma no que se já tem chamado de heterofobia, a pessoa tem a tendência de pensar num mundo com apenas duas categorias de direcionamento do desejo sexual: heterossexuais e homossexuais. Para estas pessoas não existem intermediários. De modo preconceituoso, isto é, pensando a realidade antes de a reconhecer, não podem conceber que exista quem possa desejar homens e mulheres indiscriminadamente. Menos ainda conceberão que uma pessoa possa viver uma época da vida heterossexual e noutra ter preferências homossexuais e, numa outra, bissexuais. Ou seja, elas excluem as possibilidades da diversidade sexual real. Toda e qualquer coisa diferente de homens e mulheres está fora da "realidade" que concebem pois, se as aceitarem, estas pessoas estarão acabando com o mundo em que vivem. Essa introjeção ocorre no princípio da vida, sem racionalidades, e pode ser superada na vida adulta, quando a pessoa quiser voluntariamente ou se dispor dos meios para produzir a mudança.A expressão física da violência depende de outras características de personalidade. Uma delas é a autocompreensão de que ser violento e expressar emoções de modo intenso é normal. Assim, a pessoa acredita que faz a coisa certa, que os outros não se importam com o social, nem com "o que está acontecendo no mundo". Então, a forma de expressão depende de crenças outras que não se ligam imediatamente à homofobia.A discriminação verbalizada ou por atitudes precisa ocorrer para que a pessoa mantenha coerência interna e a percepção de continuar sendo o que considera ser na integridade. Discriminar é a maneira de sentir-se íntegro. Por isso a discriminação é tão forte, de outra maneira não se sentirá verdadeiro, e sentirá que correrá riscos de despersonalização.Embora seja um mecanismo negativo é o que o indivíduo tem para manter-se organizado e "sadio". Esta é outra razão pela qual torna-se tão difícil uma pessoa vencer um preconceito. Trocar uma crença por outra exige mecanismos especiais, nunca desenvolvidos socialmente.Apenas algumas pessoas podem sentir prazer em expressar a discriminação e a homofobia. Este formato depende de outras características pessoais, como ter aprendido a associar prazer, em submeter outras pessoas, ou rebaixá-las (de acordo com as crenças que tem). Explodir ou produzir violência não é atributo de homofobia, mas de características pessoais. Afinal, homofóbicos e não homofóbicos podem ser violentos.Apenas as pessoas que têm características de se sentirem perseguidas é que não expressarão a homofobia de modo aberto. Elas vão preferir fazer isso em ocasiões diferenciadas acreditando que produzirão, naquele momento, um efeito magnânimo contra o objeto que lhe causa receios. Estas pessoas podem explodir em violência tentando "acabar" com a angústia que sentem por serem "perseguidas".Mudar nem sempre é uma opção que as pessoas consideram saudável. O medo da mudança impede que busquem tratamento para a condição que lhes traz angústias e sofrimentos e que também importuna o mundo em que vivem. Melhoram a qualidade de vida com as mudanças, mas não sabem disso enquanto estão produzindo dores para evitar a dor. Se todo mundo que percebe que tem crenças que produzem comportamentos negativos procurarem mudá-las, teremos um mundo bem melhor...
Por:Oswaldo M. Rodrigues Jr. é psicólogo, diretor do Instituto Paulista de Sexualidade e Psicoterapeuta Sexual e autor de vários livros
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